Resenha: O Retrato de Dorian Gray



Livro: O Retrato de Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Tradução e Apresentação: Clarice Lispector
Gênero: Romance, Novela, Clássico Universal
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 144

   Sinopse:

Dorian Gray é um jovem rico que enfeitiça a todos com sua rara beleza. Ao ter seu retrato pintado por Basil Hallward e constatar a perfeição da obra e de seu próprio rosto representado, ele manifesta o desejo de permanecer com aquela inocência cativante para sempre - o quadro envelheceria em seu lugar. No ateliê de Basil, Dorian conhece lorde Henry, famoso por sua ironia mordaz e por sua crueldade. Sob a influência de Henry, Dorian Gray inicia o que chama de "exploração dos sentidos". A partir de então, sua vida se resume à busca incessante da felicidade e dos prazeres.

(Sinopse padrão para O Retrato de Dorian Gray, disponível nas páginas online dedicadas ao livro, no Skoob e na Saraiva.)

   Na contracapa:

Único romance de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray foi publicado em 1891 e teve grande impacto na sociedade inglesa. Muito embora seja uma obra de ficção, o romance acabou sendo usado contra Wilde em seu julgamento, em 1895, quando foram delineados diversos paralelos entre os traços de caráter do protagonista e os do autor. Para além da polêmica que causou, O Retrato de Dorian Gray permanece como um dos mais importantes clássicos da literatura moderna. Com seu estilo aguçado, Oscar Wilde construiu um retrato fiel da era vitoriana e da juventude intelectual de sua época.

   Conhecendo o autor e a obra:

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde, ou simplesmente Oscar Wilde, nasceu em Dublin, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda (mais especificadamente onde hoje é a atual República da Irlanda), em outubro de 1854, e faleceu em Paris, França, em novembro de 1900, vítima de uma violenta meningite, agravada pelo abuso do álcool e pela sífilis.

Foi um influente escritor, poeta e dramaturgo britânico. Depois de escrever de diferentes formas ao longo da década de 1880, ele se tornou um dos dramaturgos mais populares de Londres, em 1890. Hoje ele é lembrado por seus epigramas e peças, e as circunstâncias de sua prisão, que foi seguido por sua morte precoce.

Pioneiro na criação do filme de drama e no de ação. O sucesso literário foi acompanhado de uma vida bastante mundana, e suas atitudes tornaram-se cada vez mais excêntricas.

Em maio de 1895, após três julgamentos, foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por "cometer atos imorais com diversos rapazes". A imaginação como fruto do amor é uma das armas que Wilde utiliza para conseguir sobreviver nas condições terríveis da prisão. Ele ainda alimenta o amor dentro de si como estratégia de sobrevivência. A imaginação, a beleza e a arte estão presentes na obra de Wilde. 

Após a condenação a vida mudou radicalmente e o talentoso escritor viu, no cárcere, serem consumidas a saúde e a reputação. No presídio, o autor de Salomé (1893) produziu, entre outros escritos, De Profundis, o clássico anarquista, A Alma do Homem sob o Socialismo e a célebre Balada do Cárcere de Reading

Foi libertado em maio de 1897. Poucos o esperavam na saída, entre eles seu maior amigo Robert Ross. Passou a morar em Paris e a usar o pseudônimo Sebastian Melmoth. A produtividade literária era pequena. O fato histórico de seu sucesso ter sido arruinado pelo Lord Alfred Douglas (Bosie) tornou-o ainda mais culto e filosófico, sempre defendendo o amor que não ousa dizer o nome, definição sobre a homossexualidade, como forma de mais perfeita afeição e amor. 

Em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, considerado por críticos como obra-prima da literatura inglesa, Oscar Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas. Publicado pela primeira vez como uma história periódica em julho de 1890 na revista mensal Lippincott's Monthly Magazine, acabou por ofender a sensibilidade moral dos críticos literários britânicos da época, alguns dos quais disseram que Oscar Wilde merecia ser acusado de violar as leis que protegiam a moralidade pública.


   O que mais gostei:

Eu fiquei realmente surpreso. Devo confessar que não conhecia a obra nem o autor, mas já tinha ouvido falar  e lido algumas coisas a respeito, além da sinopse do filme homônimo, do qual é a base. Com menos misticismo do que esperava, uma temática inesperada (por mim) e uma abordagem incrivelmente não tradicional, devo afirmar que o livro me foi uma aquisição totalmente nova, pelas suas características e forma.

O autor me chocou ao me apresentar um personagem como Henry (ora chamado de Harry) Wotton: um lorde inglês, abastado, que possui o estranho e peculiar 'fetiche' por influenciar as pessoas. E, no geral, negativamente. Ele vê nisso uma arte, evidenciando isso nas passagens a seguir:
"...influenciar uma pessoa é emprestar-lhe nossa alma. [...] Tudo lhe vem de outrem." e "Boa influência é coisa que não existe [...] Toda influência é imoral... do ponto de vista científico.".
Ele deveras é uma influência nociva. Ao ser apresentado por seu amigo, o pintor Basil Hallward ao encantador e deslumbrante Dorian Gray, ele se põe logo a maquinar um raciocínio que viesse a corromper o jovem. Através da fala, e dos subsequentes pensamentos e filosofias pessoais, Harry ganha a atenção de Dorian, de maneira que pode ser considerada nefasta. Ele o incita a ceder às tentações, e a experimentar tudo, fazendo todas as coisas em benefício e proveito próprios.
"...você e suas teorias falsas, fascinantes, perversas, deliciosas." e "Eu represento para você os pecados que nunca se animou a cometer."
Devo destacar que o fato que mais me chamou a atenção no começo da história é o deslumbramento de Harry e Basil diante da aparência física (vulgo 'beleza'?) de Dorian. Poderia a beleza humana causar realmente tal efeito? Tal atração e magnetismo? Adoração? O efeito devastador que Dorian exerceu sobre Basil, e a consequente conversa entre o pintor e Harry, me fizeram pensar no quanto a beleza física, as aparências realmente influenciam as relações humanas. E não para por aí, a efemeridade da juventude, e a importância dada à mesma, também são tópicos interessantes. Conforme podemos notar em:
"Parece que um destino mais cruel está reservado aos belos." e "Coloquei muito nele do meu eu." e "Trate de conservar essa aparência.".
Pois bem, dando sequência à história, temos a conclusão do quadro (de corpo inteiro), que Basil pintou, enquanto Dorian posava como modelo-vivo. A partir desse momento, influenciado pelas ideias de Henry, Dorian passa a ser superficial e narcisista. Lamenta que um dia irá perder a beleza e juventude, nas quais antes sequer reparava. A partir daí ele exprime o desejo de que a pintura envelhecesse em seu lugar, como mais um lamento; ele jamais poderia imaginar que seu desejo iria virar realidade. Assim começa a história de Dorian Gray, e sua trajetória em busca da "exploração dos sentidos". 
"A cada novo pecado, uma nova mancha lhe ofenderia a beleza?" e "O retrato contava a história do original.".
Outro aspecto que quero ressaltar é o papel da mulher na sociedade, durante a Era Vitoriana, notem a descrição:
"...mulher nunca é um gênio. As mulheres são um sexo decorativo. Nunca têm nada a dizer, mas falam que é um encanto. Representam o triunfo da matéria sobre o espírito." e "Acho que as mulheres apreciam a crueldade. Elas tem instintos primitivos. Nós as emancipamos. Mas elas continuam escravas, à procura de senhor. Gostam de ser dominadas.".
Conforme a Maria R. F. Pereira diz, em seu artigo acadêmico intitulado "A Mulher na Sociedade Vitoriana - Papel Social": "O perfil da mulher é delineado. Pura, delicada, passiva, submissa e bela, assim deveriam ser as mulheres vitorianas. Almas tão puras não podem ser corrompidas com negócios ou ciência, e corpos tão frágeis não têm condições de trabalhar para o próprio sustento. O papel da mulher na sociedade vitoriana limita-se à vida doméstica, compromissos sociais como organização e participação em bailes, visitas à igreja ou à paróquia da cidade ou um chá durante a tarde com outra respeitável dama. Essas atividades resumem a vida das mulheres nessa época.".


E o que falar sobre a criação dos filhos, os cuidados, os deveres e obrigações dos pais? Há uma parte na história falando sobre isso, quando conhecemos Sibyl.

"Sibyl tem mãe. Eu não tinha."
Como nunca havia lido um livro do autor, nem sequer pesquisado a respeito de sua vida, além de que desconhecia o conteúdo original da obra, a li sem conhecimento do background/contexto, tanto da época em que foi escrito, quanto da vida pessoal do autor. De modo que quando compreendi, de fato, o que Basil quis dizer ao expressar que colocara o segredo de sua alma na pintura do retrato de Dorian, acabei me surpreendendo, realmente.
"Fomos amigos e amigos continuaremos a ser, apesar de sua confissão." e "Em vez de revelar o seu segredo, levara o amigo a fazer uma confissão que explicava muitas coisas. Seus ciúmes. Sua dedicação, seus elogios, suas curiosas reticências...".
Após alguns anos, Dorian passou de influenciado a influenciador: a mocidade o imitava. Ele manteve hábitos escusos e discutíveis, mas encobertos  e ocultos em sua maioria. A vida dupla lhe era interessantíssima, mantendo as aparências de nobre irrepreensível, presente nos eventos sociais, e abrindo sua mansão à eles também. Apesar dos boatos que se ouviam a seu respeito, e de antigas amizades que foram desfeitas, nada o abalou por um bom tempo.
"A sociedade civilizada nunca se dispôs a acreditar, seja o que for, em prejuízo dos indivíduos belos e ricos. Para muitos, as maneiras tem mais importância do que a moral."
Colecionando diversos artefatos, variados, dependendo do seu interesse no momento. Porém chegou o tempo em que ele passou a dedicar demasiada preocupação com o quadro. Chegando à obsessão. Daí em diante, Dorian entrou em um verdadeiro despenhadeiro na vida social. Os rumos de sua vida, e a conclusão do assunto, você confere lendo o livro! ;)

Interessante notar que:
  • Quando foi publicado na revista Lippincott's Monthly Magazine, os editores temiam que a história fosse indecente, e sem o conhecimento de Wilde, suprimiram cinco centenas de palavras antes da publicação;
  • Wilde defendeu agressivamente seu romance e arte em correspondência com a imprensa britânica;
  • O conteúdo, estilo e apresentação do prefácio se tornaram famosos em seu próprio direito literário, como crítica social e cultural;
  • O romance existe em duas versões, a edição de revista de 1890 e a edição do livro de 1891;
  • Oscar Wilde disse que três dos personagens eram reflexos de si mesmo: "Basil Hallward é o que penso que sou: Lorde Henry é o que o mundo pensa de mim: Dorian Gray é o que eu gostaria de ser — em outras eras, talvez.";
  • Um dos prazeres totalmente discutíveis de Dorian era o ópio: que trazia uma falsa sensação de bem-estar e tranquilidade momentânea;
  • A adaptação da obra para o cinema saiu primeiro nos EUA, em 2009, e dois anos após, em 2011, no Brasil. Intitulada "O Retrato de Dorian Gray"; Com duração de 1h52min, é a 16ª versão para o cinema ou TV do livro de Oscar Wilde, e o 3º livro do autor a ser adaptado para o cinema.¹ O filme não deslanchou, e se mostrou um verdadeiro fracasso. Confiram aqui a crítica do portal Adoro Cinema.
#EuLi #OscarWilde 

   O que não gostei:

Bem, não posso criticar a obra de Wilde. Ele realmente captou a corrente vertente de sua época. A realidade feminina, a importância das aparências, a ilusão do que vemos por fora, em oposição ao interior, a briga entre fazer o certo e ceder às tentações. Acima disso, Wilde discutiu as influências humanas, a disposição a ceder às tentações, e a abordagem do egocentrismo. O livro merece o posto de clássico universal realmente, mas irei odiar eternamente o senhor Henry Wotton por sua ideologia vulgar, imoral e egocêntrica. E a Dorian, que por sua vez, adotou o modo de pensar e ponto de vista de Henry, e elevou-a a um patamar lastimável.


Ah, acho que devo dizer que o volume físico que li (que fazia parte do acervo do PNBE 2013), contava com 4 páginas a mais, repetidas, da numeração 97-100;

   Citação Preferida:

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