Resenha: toda Mafalda,
da primeira à última tira


Livro: toda Mafalda, da primeira à última tira
Autor: Quino
Gênero: Cartoon, Crítica Social
Editora: Martins Fontes
Páginas: 420

   Sinopse:

Mafalda é apenas uma garotinha. Gosta de brincar, de dançar e odeia tomar sopa. Mas, com apenas seis anos de idade, a menina criada tem plena consciência do mundo em que vive, cheio de injustiças, guerras e intolerância. Ela e sua turma gostam dos Beatles, mas questionam o insano universo dos adultos, suas manias e suas maneiras de encarar o mundo e a realidade. Esta edição contém as tirinhas publicadas por Quino, da primeira à última, e procuram mostrar, com humor e carisma, que ser politizado e consciente não significa ser pessimista, e, principalmente, não significa ser adulto.

(Sinopse padrão para toda Mafalda, da primeira à última tira, disponível nas páginas online dedicadas ao livro. Encontre-o no Skoob, e seguem os links para compra na Saraiva, na Fnac, na Livraria Cultura e no Submarino.)

   Na contra capa:


"Mafalda não é apenas um novo personagem das histórias em quadrinhos: é o personagem dos anos sessenta. [...]


Mafalda é realmente uma heroína 'enraivecida' que recusa o mundo tal como ele é. [...] De uma coisa ela tem certeza: não está satisfeita. [...]


Já que nossos filhos vão se tornar - por escolha nossa - outras tantas Mafaldas, será prudente tratarmos Mafalda com o respeito que merece um personagem real.

- Umberto Eco"


   Sobre o autor:

Joaquín Salvador Lavado Tejón, mais conhecido como Quino, é um cartunista e historiador gráfico argentino. Criador da icônica personagem, Mafalda. Logo no começo deste livro (toda Mafalda), temos a narração de uma entrevista com o autor, em um encontro com a também a jornalista, e também escritora, Maruja Torres. Na entrevista, Maruja nos dá alguns pormenores da vida de Quino, atualmente. Também fala do relacionamento afetuoso e cúmplice do autor com sua mulher, e pede algumas informações a respeito da personagem. Também lemos um pouco sobre a carreira, e desenvolvimento artístico. E por último, sobre o sucesso obtido por essa "menininha contestadora".  Somos agraciados ainda com uma linha do tempo da personagem.


Quino, com sua emblemática personagem,
Mafalda

   O que mais gostei:

Antes de tudo, um aviso, existem livros perigosos! Que fazem você pensar! Esse é um deles. Certos livros podem mudar a sua vida! Então, caso você não queira sair do comodismo, nem parar pra refletir e criticar o que há de errado no mundo, volte aos seus afazeres normais. Caso contrário, bem-vindo ao mundo de 'cabeça-pra-baixo'. :D

Ah! Sou total e completamente duvidoso para falar da Mafalda! Não consigo sequer lembrar a primeira vez em que a vi, ou quando li uma de suas tirinhas. Só posso dizer uma coisa: foi compatibilidade à primeira vista! Foi indescritível encontrar uma personagem, e por sinal tão jovem, que fizesse o mesmo tipo de perguntas que eu. Que questionasse a sociedade, que criticasse o que havia de errado, que colocasse o dedinho na ferida. E Quino conseguiu isso de forma magnífica!

Em suas tiras, usando do humor, e em meio a censura e regimes ditatoriais, Quino conseguiu trazer a realidade à tona através de seus cartoons, aparentemente inofensivos, mas recheados de temas e questões políticas e morais.

A ideia de um livro contendo todas as tirinhas nunca tinha me passado pela mente, mas qual não foi minha surpresa, quando ao passar pelas prateleiras da biblioteca da faculdade, encontrei um volume único! Depois de tanto tempo sem ela, foi ótimo matar a saudade dessa pequena heroína, que ataca a corrupção e os problemas mundiais, odeia sopa, ama os Beatles, e vive brincando com seus amigos de faroeste, no melhor estilo bang-bang. E não posso discordar dela quando diz que um dos poucos programas de TV que se salvam, é o Pica-Pau (he he he he)!

Quão simbólicas são essas tirinhas, quão representativas! Abordando questões importantes em suas épocas, como ditaduras, Vietnã, ONU, pobreza, burguesia e militarismo. E o que falar dos personagens? Temos a Susanita, representando a típica mulher burguesa, de décadas passadas, preocupada com o lar e o status financeiro e social; Há o Manolito, viciado em trabalho, e dinheiro, sempre colocando o lucro em primeiro lugar; Temos também o Filipe, o sonhador, que sempre sofre ao ver tudo ir por água abaixo. E vários outros personagens, como Guile, Miguelito, Liberdade, todos com personalidades peculiares, que ajudam a montar a trama da sociedade, de forma miniaturizada, ao redor da Mafalda.

O uso das tirinhas da Mafalda, de forma educativa e pedagógica, sempre foi um 'tiro certeiro'. Os livros didáticos, além de apostilas e outros tipos de literatura acadêmica, as usam para ilustrar momentos históricos, ideologias e circunstâncias. E mesmo sendo antiga, disse e repito quantas vezes forem necessárias: não perde a característica de ser atual, de ser pertinente. Os questionamentos feitos por Mafalda e sua turma ajudam a desenvolver o raciocínio, o pensamento crítico. Despertam o leitor para o mundo ao seu redor, e os problemas nele existentes, mostrando que nós somos uma parte da sociedade, e que temos responsabilidades nela. Também nos relembram de que somos juízes de nós mesmos, de nosso caráter, e do que estamos dispostos a fazer para melhorar o mundo, ou ir contra ele.



   Curiosidades:

  • A personagem foi originalmente criada para uma campanha publicitária, que foi cancelada em seguida. Ressurgiu em 1964, e se tornou um fenômeno mundial.
  • Apesar de Quino ser contrário à ideia de uma adaptação ao cinema ou teatro, um desenho animado foi realizado por Carlos Márquez em 1982. Ele continua pouco divulgado e conhecido. Aqui, vocês poderão assistir ao primeiro episódio.
  • Mafalda e sua turma já ilustraram oficialmente a Declaração Universal dos Direitos da Criança, para a UNICEF.
  • Eu mesmo, devo confessar, fui um dos muitos fãs da personagem que ficaram abismados quando na época de comemoração dos 50 anos, Quino afirmou que Mafalda era só mais um desenho¹! Lembro que pensei: "Como um autor pode desvalorizar tanto sua obra, principalmente uma personagem como Mafalda, que era a voz de crianças, jovens e adultos em épocas mais duras e sombrias?". Não havia cabimento para tal afirmação de Quino, ao meu ver. Porém, o autor se justificou prontamente:
"Eu sou como um carpinteiro que fabrica um móvel, e Mafalda é um móvel que fez sucesso, lindo, mas para mim continua sendo um móvel, e faço isto por amor à madeira em que trabalho."
Quino expressou ainda que não sente que Mafalda tenha sido sua "melhor aliada" para dizer "o que queria e quando queria".
"Meu melhor aliado fui eu mesmo, porque deixei de dizer muitas coisas que gostaria e não se podia dizer. Desde que cheguei a Buenos Aires com minha pastinha (em 1954), me disseram que não podia fazer desenhos sobre militares, sobre a igreja, o divórcio, a moral. Então me acostumei a desenhar as coisas que me permitiam."
Bem, depois disso, então, consegui entender o que Quino quis expressar. Creio que ele tenha passado a realmente se sentir preso, obrigado, a uma única personagem, e que o processo tenha se tornado demasiado repetitivo. Porém, ainda assim não posso acreditar que ela tenha realmente se tornado uma "chave de cadeia" para ele.
  • Ano passado ocorreu uma exposição em comemoração² dos 50 Anos de Mafalda, que se estendeu até o final de fevereiro desse ano!

Além do vídeo, aqui embaixo há uma galeria com uma série de fotos da exposição (créditos do Gabriel Nogueira³).


  • O autor mantém um site oficial no ar, gente. Corram lá e confiram tudo!
  • Uma opinião pessoal, agora. Acredito realmente que a Susanita tenha uma queda pelo Filipe, algumas tirinhas dão a entender isso.:P

   Citação Preferida:

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2 comentários:

  1. Muito bom! Eu AMO a Mafalda e me identifiquei com ela assim como você. É incrível de repente descobrir alguém que entende nossos questionamentos e dúvidas. Quero comprar logo esse volume único!
    Beijinhos

    https://www.facebook.com/paixaodeleitora?fref=ts
    http://paixaodeleitora.blogspot.com.br/

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    1. Prazer, então! Todo amigo da Mafalda é meu amigo! kkkkk' Outro amigo meu ficou muito animado quando viu que eu tinha lido, e quis emprestado. Aí falei que havia pego emprestado da biblioteca da facul, ele ficou surpreso de ter o volume lá. Essa é a importância das bibliotecas públicas, sejam municipais ou de outras entidade, de terem um acervo diversificado. Um abraço, e sucesso com o blog, vou dar um pulo lá!

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